Este artigo pretende fazer uma breve amostra do papel dos computadores no processo educativo. No dia-a-dia da vida cotidiana, em jornais, revistas, na televisão, enfim, por todos os lados se ouve falar de computadores como tecnologia da esperança. Isto também ocorre na educação quando diante das novas vertentes tecnológicas por que passa a sociedade mundial.
Da mesma forma que sucedeu com as idéias de PIAGET e a grande discussão sobre elas serem um método ou uma teoria, com clara propensão para a segunda hipótese, a educação à distância inspirou uma série de conceitos aparentemente díspares: trata-se de modalidade, metodologia ou tecnologia?
Sem entrar no mérito da questão etimológica, ela pode ser apresentada como a tecnologia da esperança. Há uma expectativa de que represente reforço considerável à política de recursos humanos de nações interessadas no progresso, que dependerão dela para alcançar uma aprendizagem construtiva.
A própria democratização, em curso ostensivo na América Latina, é acompanhada de uma agradável promessa de prosperidade geral, impossível de obter sem o apoio de uma educação global competente e de vanguarda.
Ampliou-se a noção de ensino, antes centrada na precária sala de aula, para alternativas audaciosas, representadas por satélites, vídeos, microcomputadores e correio eletrônico. A habilidade profissional antes buscada nas universidades tradicionais, por métodos convencionais, cede espaço, felizmente, a ações de treinamento técnico em órgãos governamentais, comércio, indústria e profissões, ensejando claro aperfeiçoamento, pela apropriação rápida de noções enriquecedoras.
Textos são difundidos por meios eletrônicos (como faz a Esaf, em Brasília, hoje com mais de 40 mil alunos), substituindo a solidão de mestres servindo a pequenos grupos por um sistema em que diversas instituições trocam experiências, com proveito geral. É a educação de amanhã, hoje vislumbrada com nitidez. Quem fugir a essa interatividade, mantendo padrões antigos, estará condenado à superação inexorável.
Além da formação específica do magistério, a nosso ver a prioridade mais relevante, podemos voltar as vistas, para as virtualidades no mundo da preparação e do treinamento do trabalhador, hoje uma necessidade brasileira evidente. Os sistemas tecnológicos orientados para a educação devem servir para atualizar o trabalhador, ampliando suas chances de emprego, hoje em crise. Ao estabelecer essa cultura planetária, que tem lá seus riscos, deve-se levar em conta que ela jamais poderá servir de instrumento de dominação. Os desvios poderiam ensejar o que ninguém pretende: expandir de forma lamentável uma “educação para a distância”.
Quando se fala em educação à distância interativa, por exemplo, com satélites domésticos de telecomunicações, quem suportaria tamanha oferta mundial de teleconferências, reunindo universidades dos mais distantes rincões? A interatividade significa debate em tempo real, antes impossível de estimar.
Hoje, a Universidade Federal de Santa Catarina, com apoio de agências oficiais, como Capes e CNPq, faz um belo trabalho de pós-graduação à distância. Tem 250 alunos em mestrado e doutorado, integrando fortemente seu trabalho com o mundo empresarial, diz João VIANNEY, responsável pelo projeto.
Em outro plano nacional, há a Universidade, criada e administrada pioneiramente pela Faculdade Carioca do Rio. Adotou um esquema inédito, virtual, de professores em tempo integral, usando endereços eletrônicos e viabilizando cursos para 1 milhão de usuários da Internet no Brasil, público que cresce na proporção de 10% ao ano (são 60 milhões no mundo). Já oferece trabalhos no comércio exterior (WTC de São Paulo) e nas áreas biomédica (para a Unimed), elétricas (Eletrobrás) e pedagógica, com cursos sobre Lei de Diretrizes e Bases e filosofia da educação.
Podemos citar também a Universidade Federal de Mato Grosso, com mil vagas nas licenciaturas oferecidas à distância no interior do Estado, em interação efetiva com a Secretaria da Educação (treina 32 mil professores).
Ainda não dispomos de uma política nacional de educação à distância, o que é bem sintomático da desorientação oficial. O professor Walter GARCIA, presidente da Associação Brasileira de Tecnologias Educacionais, estima que em dez anos teremos cinco vezes mais alunos de educação à distância do que hoje – ou seja, cerca de 8 milhões.
O que se espera é que os materiais de apoio sejam de boa qualidade e que se processe um aprendizado coletivo, cooperativo, próprio da modalidade, que está longe de se confundir com um supletivo de segunda categoria.
Essa nova vertente do processo educativo encontra apoio em várias teóricos da educação na linha construtivista. O ensino a distancia, possibilitado pelas novas tecnologias, é uma perspectiva piagetiana. Jean PIAGET defende a possibilidade da eficácia da aprendizagem de modo individual e como conquista pessoal do aluno. Sobre isso, fala MORRIS e MARTÍN:
Las concepciones de Jean Piaget han derivado en un paradigma pedagógico sui géneris: el contructivismo. Esta concepción pedagogica se base en una idea fundamental de la teoría piagetiana: el conocimiento se construye de un modo personal e individual por el que aprende.
Dentro desta perspectiva, a tecnologia da informação é portanto, a ferramenta que pode vir a garantir o ensino de qualidade e servir de instrumento que sinalize e facilite a saída para a crise vivida pelas escolas, garantindo a inserção dos sistemas educativos no mundo globalizado.
Para Claudio ODRI “a cartilha do futuro será a junção de livro, CD-ROM e Internet”. O novo material didático, utilizando as novas tecnologias e a perspectiva da educação a distância, é apontado desde já como a saída para a educação que requer, cada vez mais um conhecimento global.
Finalmente, toda essa revolução tecnológica e a presença cada vez mais marcante da informática nas nossas casas, nas salas de aula, no trabalho, enfim no dia a dia das pessoas, requer que todo o setor da educação (em especial as Universidades) reavalie sobre a questão da utilização do computador como ferramenta didática e o seu papel na formação dos novos profissionais, deixando de lado aquela “fase negra” do empirismo que ainda reina na sociedade.
É importante que os educadores realizem com os próprios alunos, um debate desta realidade que ocorre hoje, discutindo-se as limitações e vantagens do que é ensinado e aprendido nas escolas e possíveis usos de tais conhecimentos no trabalho e na sociedade. O domínio de um processador de textos pode até facilitar a obtenção de um emprego de digitador ou de secretária, mas o mais importante será aquilo que o trabalhador irá fazer com o processador de textos.
A partir daí tem-se a grande chance de “revolucionar” o ensino, ao passo em que haverá um melhor aproveitamento dos conhecimentos que serão passados aos alunos e a formação de profissionais com outra visão, capazes de competir de igual para igual no mercado de trabalho.
BIBLIOGRAFIA:
BITTENCOURT, J. Informática na Educação? Considerações a Partir de um Exemplo. Trabalho apresentado na 19a reunião anual da Anped, (Grupo Didática) 1996.
BYTE BRASIL. Novas Formas de Aprender. p. 34-51, mar/1995. < p style=text-align:justify;>CYSNEIROS, P. G. Linguagem e Informática. Tópicos Educacionais. Recife, Editora da UFPE, da Anped, (Grupo Didática) 1995.
MORRIS, Raquel Bermúdez e MARTIN, Lorenzo M. Pérez, Arendizaje formativo y crecimiento personal: Concepciones del aprendizaje em la psicologia. Havana, Cuba, p. 16, 1998.
ODRI, Claudio, Ensino Virtual. In: Revista EDUCAÇÃO, São Paulo, ano 25, n. 205, p. 22-23, maio 1998.
* Bernardo Ferreira da Cruz Neto é especialista em Metodologia do Ensino Superior pela Universidade de Pernambuco, concluinte do curso de Mestrado em Pedagogia Profissional pelo Instituto Superior Pedagógico para la Educacion Técnica y Profesional “Hector A. Pineda Zaldivar”, Havana-Cuba, coordenador da área de Manutenção (2º e 3º graus) do Centro Federal de Educação Tecnológica da Bahia, CEFET-Ba, professor-sócio da Escola de Engenharia Eletromecânica da Bahia e professor de curso de Especialização em Engenharia de Instrumentação e Controle de Processos da Universidade Federal da Bahia. E-mail: bernardcruz@cefetba.br