A filosofia está sendo considerada apenas mais uma disciplina do currículo escolar. Essa situação pode estar relacionada à sua posição na LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação), segundo um estudo da professora Maria Helena Prado Maddalena, que desenvolveu a dissertação de mestrado “Lecionar filosofia: uma prática em debate”.
Sob orientação de Marcos Barbosa de Oliveira, da FEUSP (Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo), a pesquisa da professora procurou realizar um “um estudo de caso do ensino de filosofia nas escolas de ensino médio de Mogi das Cruzes”. O interesse por esse objetivo surgiu, segundo Maddalena, na Universidade Mogi das Cruzes. “Lecionei na Universidade durante muitos anos e observei que a cada ano os alunos vinham apresentando mais dificuldades e estavam chegando menos preparados para as cobranças que a filosofia fazia”, explica, dizendo que procurou, com sua dissertação, investigar a origem desse problema.
Examinando a situação da filosofia na LDB, a pesquisadora percebeu que aquele campo do conhecimento estava inserido como uma disciplina optativa para as escolas. Além disso, pôde concluir que não há espaço para a filosofia, apesar de muitas pessoas reconhecerem o diferencial que o estudo permite. “Não se pensa filosoficamente a filosofia, mas como uma disciplina do currículo, que pode ficar reduzida a uma carga horária mínima.” As habilidades da filosofia, suas posturas e ferramentas deveriam ser mais desenvolvidas, segundo a professora, por intermédio das outras disciplinas que é justamente a orientação dos Temas Transversais.
Inicialmente, a professora tinha a seguinte hipótese: não há professores de filosofia em número suficiente e as aulas estão nas mãos de pessoas sem formação superior. Essa suposição não se verificou. “Pelo menos na região de Mogi das Cruzes, a disciplina está entregue nas mãos de professores formados em filosofia e isso é profundamente importante porque, embora não tenham as condições necessárias, estão conseguindo desenvolver um bom trabalho”, salienta.
Para a professora, 50 minutos por aula semanal é muito pouco para desenvolver um trabalho desejável. O ideal seria pelo menos duas horas semanais nas três séries do ensino médio. Além disso, há uma desmotivação nos alunos, que agrava ainda mais o problema. Como causa para o desinteresse, a professora verificou que a escola está defasada em relação aos veículos de comunicação. “A televisão é mais atrativa do que a escola”, garante. O ensino médio como ponto de estrangulamento é mais um agravante. Ela verificou que poucos chegam ao ensino médio e os que conseguem visam prestar vestibular ou ingressar no mercado de trabalho, objetivos em que a filosofia não é considerada importante.
Maria Helena entende que vivemos uma época de pragmatismo extremo, em que tudo é urgente e para agora. “O jovem é muito imediatista e a filosofia não se presta muito para isso”, esclarece, dizendo que as habilidades do filosofar são poderosas, mas impossíveis de os alunos descobrirem isso sozinhos. Ela reconhece, no entanto, que a situação da filosofia é semelhante em outras disciplinas. “O aluno não vai se interessar por história se não conseguir observar uma relação entre ela e a realidade em que vive”.
A solução para aumentar o interesse pela filosofia, segundo a professora, já está sendo realizada, de certa forma, no ensino fundamental e até na pré-escola, fruto de um trabalho do Centro Brasileiro de Filosofia para Crianças. “Esses alunos vão chegar ao ensino médio com um repertório”, assegura.
“Lecionar filosofia: uma prática em debate”, dissertação de mestrado de Maria Helena Prado Maddalena. Orientação de Marcos Barbosa de Oliveira, da FEUSP. Defesa em agosto de 2001, na FEUSP.