A escola não oferece estrutura para a realização de um trabalho voltado à realidade, dificultando a formação do aluno e futuras oportunidades de concorrer a bons empregos. Não há um acompanhamento efetivo da família nos deveres escolares, embora a nova LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) enfatize a importância dessa função. E, além dessas deficiências no espaço escolar e familiar, tanto alunos como professores não são preparados para novas tecnologias. As conclusões tiveram como base dados colhidos em uma escola pública de 1ª a 4ª série, da periferia de Campinas (SP), que atende 849 alunos com 25 professores.
Filhos de pais analfabetos, a maioria dos estudantes mora em assentamentos e, junto com os docentes, lamenta a falta de computadores nas aulas. Os educadores moram nas proximidades da escola e trabalham há mais de dez anos no ensino público de 1º grau. Dentre eles, priorizou-se os que cursam, ou já cursaram, pedagogia, em “faculdades isoladas” (que não integram universidades), visto que no Estado de São Paulo predomina a procura por esses estabelecimentos de ensino.
No entanto, pôde-se concluir que há um esforço das professoras que cursam pedagogia em proporcionar ao aluno a busca pela informação através da imprensa (uma vez que o único tipo de informação que os alunos recebem é na sala de aula – jornais, revistas e livro didático) e, sempre que possível, fazer com que o aluno participe da elaboração do conhecimento, o que talvez aponte para um possível compromisso incutido pela ação exercida pelo ensino superior.
Essas e outras constatações estão na dissertação de mestrado de Mara Salvucci, defendida na Faculdade de Educação da PUC-Campinas, em outubro de 1999. O estudo, que está inserido na linha de pesquisa “Universidade e Formação de Professores para o Ensino Fundamental e Médio”, examina como a educação formal está atendendo a demanda da formação de alunos e professores para novas tecnologias, advindas das transformações econômicas e sociais trazidas pelo capitalismo e como isto pode afetar o cotidiano da escola pública. Além disso, analisa o impacto das transformações econômicas (a informatização do mercado de trabalho) no cotidiano da educação formal (1ª a 4ª série) e a forma como o ensino superior tem preparado seus professores para enfrentarem essa nova modalidade de trabalho.
A pesquisa enfoca ainda os fundamentos sócio-históricos da existência social do homem, o desenvolvimento da produção capitalista no Brasil e a expansão do ensino formal relacionado às políticas do Estado e ao trabalho. Buscou-se confrontar a teoria com a realidade fazendo um paralelo com os problemas enfrentados pelas professoras na prática diária de sala de aula e as contradições presentes nas políticas governamentais em relação às novas culturas tecnológicas de trabalho e como isso vem afetando a formação de seus alunos e delas próprias.
As professoras, diz Salvucci, não foram preparadas na faculdade para trabalhar com “culturas silenciadas” (termo do professor doutor Miguel Arroyo, titular da Faculdade de Educação da UFMG, para designar as representações simbólicas da grande massa de excluídos do mercado de trabalho, da força produtiva que sobrevive fazendo “biscate” – trabalho temporário, informal e sem registro, e que atualmente é tida como perigosa). Nesse sentido, falta uma compreensão, por parte dos professores e da própria escola, do que acontece fora da escola. A teoria educativa deve dar conta dos fenômenos educativos que acontecem em todos os tempos e espaço: deve dar voz aos excluídos. As educadoras, segundo o trabalho de Salvucci, também não foram instruídas para trabalhar com diferentes tipos de saberes e tampouco procuram fazer relação entre o saber social e o saber escolar.
A concepção de trabalho entre os alunos é a da atividade informal, temporária, apenas para atender ao consumo diário e às necessidades básicas. Durante o Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo (HTPC) instituído nas escolas públicas não são discutidas as dificuldades encontradas na sala de aula, tornando-se apenas um momento para preencher papéis, apesar de não serem estes os objetivos desejados pela SEE (Secretaria Estadual de Educação).
Em sala de aula predomina o diálogo e a comunicação valorizando-se uma ética individualizada de trabalho pedagógico. De qualquer maneira, o compromisso do professor supõe determinadas posturas individuais, mas a esperança está na possibilidade de que se estabeleçam modelos educacionais em que se manifestem trabalhos coletivos priorizando-se a dimensão social do conhecimento e, uma possível solução estaria na criação de programas pilotos promovido pelas SEEs para capacitação de alunos e professores, conclui a autora.
“Capitalismo e Novas Tecnologias na Educação Escolar”, dissertação de mestrado de Mara Salvucci. Orientadora: profa. dra. Maria Eugênia de Lima e Montes Castanho, da Faculdade de Educação da PUC-Campinas. Defesa em outubro de 1999, na PUC-Campinas.