A educação pública norte-americana

Numa conferência em 1992, o professor Michael W. Apple, titular da Universidade de Wisconsin, em Madison (EUA), apresentou um trabalho que analisava as tendências conservadoras na educação e na sociedade norte-americanas. O seu objetivo mais específico foi de abordar as finalidades de currículos e avaliação e os planos de escolha escolares dos Estados Unidos.

Como resultado daquele trabalho, numa tradução, a Cortez Editora lançou o livro Política cultural e educação. O texto de Apple, que recebeu a colaboração de dois pesquisadores, procura compreender as tensões mediadas entre as conseqüências globais e locais do capitalismo corporativo internacional, o crescimento e a formação do Estado conservador e os movimentos sociais. O autor faz um estudo sobre a educação pública articulado com os objetivos econômicos, os valores, a visão de família, raça e classe, a política cultural adotada, a identidade e o papel do Estado, dentre outros componentes.

O trabalho de Apple investiga as propostas da aliança neoliberal e neoconservadora para uma reforma educacional. Currículo nacional e programa de avaliação são temas abordados num contexto de contradições dessas alianças. Além disso, o livro ressalta a habilidade da coalizão conservadora em liderar grupos com interesses diferentes.

“Considero que um dos efeitos perversos de um currículo nacional será, na realidade, o de “legitimar a desigualdade”. Ele pode de fato ajudar a criar a ilusão de que, não importa quão maciças sejam as diferenças entre as escolas, todas têm alguma coisa em comum e todas são culturalmente iguais”, explica o autor, argumentando que usa a palavra “ilusão” de propósito, para deixar claro o poder enorme das diferenças absolutamente reais que existem entre escolas de cidades pobres do interior e de regiões rurais e aquelas dos subúrbios ricos.

Segundo o autor, o movimento rumo à centralização do currículos e da avaliação pode contribuir para os objetivos de longo prazo da direita: a privatização. O livro de Apple procura discutir um currículo e uma avaliação comuns de maneira diferente das abordagens atuais.

No terceiro capítulo do livro, Michael W. Apple, com a colaboração da professora Anita Oliver, docente da Faculdade de Educação da Universidade La Sierra, examina as características das posições ideológicas que sustentam certos grupos contra as escolas públicas. Esses estabelecimentos de ensino, diz o autor, têm muito com o que se preocupar, dado o poder crescente desses grupos. O texto ainda monta uma argumentação em torno das estruturas burocráticas e das respostas dadas pelas escolas, que algumas vezes criam condições favoráveis aos movimentos direitistas.

O livro, ainda no terceiro capítulo, mostra como as tradições neogramscianas, pós-modernas e pós-estruturais, podem ser reunidas para explicar as dinâmicas de poder tanto dentro da educação como à sua volta nas escolas reais. “Aproximar essas tradições de forma a promover o embate entre elas de forma criativa pode, como espero mostrar, permitir-nos identificar coisas importantes sobre políticas e práticas educacionais que, de outra forma, poderiam passar desapercebidas”, enfatiza o autor.

No capítulo “Realidades americanas: pobreza, economia e educação”, com a colaboração de Christopher Zenk, doutorando na Universidade de Wisconsin, Apple estuda a evasão escolar e sua relação com a escolaridade e a economia. O texto traz ainda depoimentos de alunos que não evadiram e, agora, estão no mercado de trabalho. “Essas vozes fornecem um testemunho eloqüente sobre as vidas às quais estamos condenando tantos de nossos jovens, se aceitarmos as definições dominantes dos problemas e soluções desta sociedade”, alerta.

Para o autor, a discussão dessas questões não é apenas retórica, mas um ato político. “Um dos aspectos mais cruciais da política é a luta para definir a realidade social e interpretar as aspirações e necessidades básicas das pessoas”. A política cultural na educação trata, diz Apple, dos recursos que empregamos para questionar as relações existentes, para defender as formas contra-hegemônicas que já existem, ou para dar luz a outras.


Livro: Política cultural e educação
Autor(es): Michael W. Apple
Editora: Cortez
Páginas: 216
COMO CITAR ESTE CONTEÚDO:
MENEZES, E. T. A educação pública norte-americana. EducaBrasil. São Paulo: Midiamix Editora, 2000. Disponível em <https://educabrasil.com.br/a-educacao-publica-norte-americana/>. Acesso em 30 dez. 2024.

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