Jacques Attali define seu Dicionário do século XXI, lançado pela Editora Record, como metáfora, “mosaico de palavras, galeria de espelhos dos sentidos, convivência de antônimos, inventário de acasos”. Seu objetivo é mostrar, e definir, a diversidade deste século através de palavras que referem-se a questões do nosso tempo. Attali, economista francês, escolheu 450 verbetes que poderiam, ao mesmo tempo, definir e prever as ações da humanidade no século XXI.
Na explicação de palavras como aids, sexualidade, ciência, guerra, rapper e clonagem, o autor, muitas vezes, coloca questões para debate ou, de certa forma, para que o leitor “invente” o futuro. Nesse sentido, suas considerações sobre os termos relacionados à educação são bastante polêmicos.
No verbete “formação”, por exemplo, Attali escreve que “será a principal forma de investimento, não apenas para si mesmo, mas para a coletividade”. Ainda, que “não dependerá mais apenas da escola, mas mais que nunca do trabalho” que constituiria-se numa “constante reformulação dos conhecimentos e maneiras de aprender”. Dessa forma, para ele, nascerá um novo direito, de que toda formação deve corresponder a uma renda e, assim, duas soluções seriam possíveis para esse financiamento: ou a formação será paga pela sociedade ou será financiada pelo mercado. Attali explica, a seguir, como se dariam estas duas formas de renda que estariam na base da formação.
Quanto ao verbete “educação”, Attali comenta que “se os direitos do mercado se instalarem nela, vai-se tornar uma indústria do espetáculo como outra qualquer, submetida como as demais às leis do lucro. Deixará de ser o principal crisol onde se modela a identidade de cada nação”. Na visão do economista, a educação não será mais um serviço, “vai se industrializar para aumentar sua produção e criar mais valor”. No entanto, para ele o professor não será substituído, mas seu serviço será completado por objetos criadores de valor – Internet, por exemplo. No caminho dessa educação avistada por Attali, os softwares serão capazes de autodiagnosticar necessidades de conhecimento e, assim, todos poderão detectar suas carências. E, finalmente, “a auto-educação tornar-se-á permanente, e todos aprenderão sozinhos, através de jogos na ´Net´ e por CD-Roms, professores virtuais…”
Com relação aos países pobres Attali é contundente: “os povos, as ´civilizações´, as ´línguas´ que controlarem primeiro e melhor as novas indústrias da educação haverão de impô-las ao resto do mundo, e as outras culturas tenderão a desaparecer do mapa, do mundo e da História”.
As definições do Dicionário do século XXI estão longe de se constituir um estudo sobre as perspectivas reais sobre a educação neste novo século. Trata-se mais das impressões de um homem de nosso tempo ou, segundo ele mesmo, de uma invenção: “para dar uma pequena chance à eternidade, já que não podemos prever o futuro, resta-nos inventá-la”.
Livro: Dicionário do século XXI Autor(es): Jacques Attali Editora: Record Páginas: 406 |