“É preciso ler o mundo para ler a palavra com competência”. Essa é a tese básica de Paulo Freire no entendimento de Moacyr Gadotti, diretor do Instituto Paulo Freire, que apresentou várias outras teses do educador pernambucano durante o I Seminário de Educação: Paulo Freire na Contemporaneidade, nos dias 4 e 5 de julho, na UERJ (São Gonçalo, RJ).
Gadotti vê a competência subordinada à ética, à estética e à política. “Não é competente o educador que não é comprometido porque ele trabalha em função de um mundo a ser construído, de um outro mundo possível; portanto de uma utopia”, explicou. Disse ainda que, em função do futuro, voltamos para o presente. Para ele, é preciso entender essa concepção de Paulo Freire sobre a competência para compreender a sua pedagogia.
Outra tese apresentada por Gadotti mostra que ensinar não é transferir conhecimento. “O papel da escola, que era de transmitir conhecimentos porque era um dos poucos espaços do saber elaborado, nesse momento, diante desses novos espaços de informação, a escola e o professor passam a ter uma outra característica que é a de gerenciar, de dar sentido ao conhecimento e a escolher o conhecimento, já que a sociedade está impregnada de informação pelos jornais”, argumentou. Diante dessa constatação, a profissão de educador deixa de ser a de transmitir conhecimento para assumir a tarefa de organizador do conhecimento e do trabalho do aluno.
O atestado de contemporaneidade de Paulo Freire teria sido dado há três anos no relatório da Unesco “Educação – Um tesouro a descobrir”, coordenado pelo francês Jacques Delors e editado pela Cortez. O trabalho concebe o conceito de educação durante toda a vida como base da educação do futuro sustentado por quatro pilares incontestáveis, segundo Gadotti. O primeiro pilar fala da necessidade de aprender a aprender e Paulo Freire dedicou toda a sua vida à questão de aprendizagem. “No momento em que a informação envelhece, não adianta deter informação”, advertiu Gadotti, enfatizando a importância de capacidades básicas como a leitura, a escrita, o pensar, o decidir, o conhecer, o domínio de linguagens e metodologias. O segundo pilar seria o aprender a conviver. O terceiro seria conhecido como aprender a fazer, hoje mais cognitivo do que manual. O quarto pilar seria aprender a ser, que trabalha a idéia de sensibilidade. Todas essas idéias estão presentes nos textos de Paulo Freire, garantiu Gadotti.
O diretor do Instituto Paulo Freire concluiu sua palestra trazendo à memória a última entrevista de Paulo Freire, quando disse que gostaria de ser lembrado como o homem que amou as plantas, as praias, o calor do mar, Recife, o ar puro, andar na rua… “Lembrado como alguém que amou a terra”, recordou Gadotti, partindo deste fato para pensar uma pedagogia da educação para a sustentabilidade. “Nossos filhos e netos podem não ter mundo algum se continuarmos com o modo de vida que levamos de degradação do meio ambiente”, alertou. Para fazer frente a esse contexto, propôs uma formação de professores que considere um ensinar a viver globalmente, que eduque os sentidos, que sinta o outro e a terra, que estimule uma identidade terrena, que eduque para a compreensão, para a ética e para a sustentabilidade. Lamentando a violência cotidiana e sua aproximação da sala de aula, sentida pelo excesso das grades e pelo medo desmedido, lembrou o que Paulo Freire dizia a respeito da escola: “não são paredes, alunos, bibliotecas ou professores; a escola é o conjunto de relações sociais humanas”.