Numa palestra do 8° Seminário Educação e Sociedade, realizado pelo Grupo de Escolas nos dias 31 de agosto e 1° de setembro, no International Trade Mart, em São Paulo, o físico Fernando Moraes Fonseca, abordou o tema “Presencialidade e virtualidade na educação”. Coordenador de Produção de Educação a Distância da Fundação Vanzolini, ligada à Escola Politécnica da USP, e autor de diversos softwares educacionais e programas de educação a distância, Fonseca questionou alguns pontos da palestra desenvolvida pelo filósofo Alípio Casali e propôs uma reflexão sobre o termo virtual.
A primeira idéia apresentada trouxe uma noção de identidade e sua relação com o virtual. Fonseca entende que, por meio da afetividade e da interação, estabelecemos a diferença entre o que somos e o que é o mundo. “O eu está surgindo aí; e nesse momento está nascendo o virtual, ou seja, aquilo que não é o todo, que é uma referência simbólica”, explicou.
Como estratégia para mostrar a sua tese, Fonseca falou sobre as imagens utilizadas na mídia impressa e eletrônica que, num processo de digitalização, perdem boa parte da informação. “Uma foto digital capta alguns pontos, mas o que está entre um ponto e outro é desprezado; e o que a ciência conseguiu produzir é uma síntese eficiente da captação da imagem”, ilustrou o físico, frisando a idéia de que “não temos prejuízos do ponto de vista pragmático”, já que não conseguimos reconhecer a diferença entre duas imagens, quando apenas uma é digital.
Em outra ilustração, citou a teleimersão, tecnologia capaz de colocar as pessoas em ambientes virtuais que simulam um espaço real. Depois, fez a seguinte pergunta: “O que é afinal a presencialidade?” Citando o tema “Presencialidade e virtualidade na educação”, Fonseca procurou descaracterizar a idéia dos opostos: “Presencial não é oposto ao virtual”. Ele entende que os dois conceitos podem, em certa medida, significar a mesma coisa. Além disso, com relação ao tema da palestra, mostrou-se incomodado com a idéia implícita de que a tecnologia seria a responsável pela virtualidade. Para ele, muito do presencial que fazemos é, na verdade, um exercício virtual. Como exemplo, citou a escola, que “trata do mundo, sem ter o mundo”.
Como uma primeira conclusão, Fonseca disse que a tecnologia traz a possibilidade de subversão da virtualização na prática educativa. “Minha tese é de que a tecnologia vai desvirtualizar aquilo que a gente faz, no sentido que vai nos aproximar um pouco do real”, assegurou. Mais adiante, explicou que as tecnologias facilitam a comunicação, aproximando pensamentos e mundos que não seriam representáveis com as tecnologias anteriores.
Fonseca também falou da escrita como um tecnologia, que permitiu, segundo ele, “criar um mundo novo”. Quando lemos um livro, por exemplo, imagens e emoções são geradas, ou seja, participamos de um “mundo mental que alguém criou”. Para reforçar essa idéia, disse: “Estamos lidando o tempo todo com o virtual que, para mim, é da constituição humana; talvez seja a mais humana de todas as características, a ponto de questionar o real”.
O físico Fernando Moraes Fonseca disse ainda, nos momentos finais de sua contribuição, que estamos numa “infância tecnológica” e que o tempo presente é de muitas indefinições. A escola, nesse contexto, pode contar com um caminho a mais, ainda que virtual, sem abandonar “tradições e metodologias que estão estruturalmente ligadas à nossa identidade”. Lembrando a palestra de um pesquisador da IBM, Jean Paul Jacob, disse que a simulação de uma erupção vulcânica e sua manipulação por alunos pode ser uma visão complexa do mundo real, com dados sobre as lavas, temperatura etc. Mas fez um alerta: “As representações estão ficando tão sofisticadas que, em alguns momentos, podemos confundi-las com o real”. Para finalizar a sua palestra, deixou uma pergunta para os educadores presentes: “Que capacidade de manipulação é possível a partir do controle dessas representações? E como vamos lidar com esse problema?”