Pensar globalmente é o que nos permite uma reflexão local. No entanto, uma abordagem mais ampla, que contemple o todo, está fragmentada com a hiperespecialização dos saberes promovido pelo ensino. Como consequência dessa lógica educacional, compreendemos o mundo de forma isolada e parcial. Ou seja, os problemas são resolvidos fora de seu contexto, sem um diálogo entre o local e o global. Levando em conta essas idéias, como poderíamos reverter esse processo, principalmente, na educação?
Uma síntese para encaminharmos uma resposta pode estar em “Notas para um Emílio contemporâneo”, editado pela Cortez, junto com outros textos, no livro Edgar Morin: ética, cultura e educação. Segundo três pesquisadores na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, em Paris, a publicação reúne textos inéditos de Morin que estavam no arquivo do Centro de Estudos Transdisciplinares, Sociologia, Antropologia e História (CETSAH).
A obra, que foi dividida em três partes (Ética e imaginário; Cultura e comunicação; Educação e cidadania), traz 13 textos sobre vários assuntos abordados por Morin. Ciência, democracia, imaginário e televisão são alguns temas. Na primeira parte do livro — Ética e imaginário —, Morin fala de uma democracia cognitiva, relacionando o conhecimento científico com a cidadania. “Relação esta que merece ser alimentada pelos sentimentos de responsabilidade e solidariedade tão esgarçados em nossa sociedade individualista”, salientam os organizadores num texto de abertura, onde traçam uma pequena trajetória do pensamento moriniano.
A segunda parte do livro traz uma entrevista de novembro de 1967 sobre questionamento “A televisão pode ser educativa?”. Morin, diz que sim: “Se educativo não for tomado no sentido pedagógico usual, ou seja, a palavra adquiriu um sentido tão amplo que podemos dizer que tudo passou a ser educativo, nesse caso, a televisão também é educativa”, responde o pensador. Mais adiante, ainda sobre a televisão e seu papel na educação, diz que “há uma passividade de fato, na medida em que somos espectadores e que até aquilo que habitualmente não faz parte do espetáculo (a vida política, a vida mundial, tudo o que acontece no mundo) é transformado em espetáculo para o telespectador”. Ainda na segunda parte do livro, Morin examina “O desafio humano da comunicação” e “A canção: essa desconhecida”.
Na terceira e última parte do livro — Educação e cidadania —, Edgar Morin trata em três textos questões como a hiperespecialização dos saberes, uma educação da paz e os problemas da mundialização. Para ele, por exemplo, não podemos encerrar o problema da paz na palavra. “Existem problemas de submissão e de liberdades tais como, em um dado momento, a idéia de paz significa aceitar a subordinação”. Além dessa perspectiva, Morin diz que o problema da guerra é também o problema da relação com o outro, “o outro concebido individual e coletivamente como o estrangeiro; ele é não somente o estrangeiro, mas o inimigo”.
Livro: Edgar Morin: Ética, cultura e educação Autor(es): Organização de Alfredo Pena-Vega, Cleide R. S. Almeida, Izabel Petraglia Editora: Cortez Páginas: 175 |