Quem espera um livro sobre Qualidade Total na escola vai se decepcionar com o lançamento da Cortez, Compreender e ensinar: por uma docência da melhor qualidade, da pesquisadora Terezinha Azerêdo Rios. E é melhor que assim seja, pois a autora, logo na introdução, descarta essa proposta fundamentada no mundo da administração e dos negócios, no início da década de 80. Para Rios, qualidade entendida nesse contexto significa transitar pelo espaço da educação com valores e pressupostos do mundo econômico.
Qualidade do trabalho na educação é fundamental. Mas é preciso questionar o significado que se dá à qualidade, adverte a pesquisadora. Essa foi uma das tarefas de sua tese de doutorado defendida na Faculdade de Educação da USP, que deu origem ao livro. Apesar de ser um trabalho acadêmico, Rios garante que o fez pensando num público mais amplo, que incluísse todos os interessados na tarefa de educar.
Os temas foram abordados nas dimensões técnica, política e ética e com o objetivo de proporcionar uma dinâmica numa perspectiva estética, com a presença mais forte da sensibilidade. Rios fez isso articulando Didática e Filosofia, a fim de enriquecer aquela com esta num percurso crítico. “O fazer a aula não se restringe à sala de aula, está além de seus limites, no envolvimento de professores e alunos com a aventura do conhecimento, do relacionamento com a realidade. Com efeito, fazer aula, realizar o exercício da docência é, para o professor, uma experiência que demanda o recurso a múltiplos saberes, entre os quais a Filosofia e a Didática”, explica a autora.
Investigar a qualidade implica em questionar seus desdobramentos. Nesse sentido, Rios também está preocupada com os indicadores de qualidade que têm norteado o trabalho dos educadores. Além disso, faz incursões nos conceitos de competência. Outro ponto de interesse na obra é verificar como é possível articular conceitos de qualidade, felicidade e cidadania; e como isso acontece no interior da prática docente.
O trabalho da pesquisadora foi dividido em cinco partes. Na primeira, tendo o ensino como foco, examina os desafios apresentados no mundo contemporâneo como busca de sentidos e de compreensão. Na segunda parte, recorre à Lógica para explorar os conceitos de qualidade. No 3° capítulo, Rios estuda as dimensões da competência, ou seja, a articulação entre o domínio de conhecimentos, a sensibilidade e a criatividade. Ela aborda o alcance dessas ações e o compromisso com a cidadania. O capítulo seguinte, continua com cidadania, mas visando a democracia e a dimensão utópica do trabalho docente.
O último capítulo merece destaque já que traz como título “Certezas provisórias”. É uma tentativa de deixar o trabalho docente como um ofício de busca permanente para ampliar a sua qualidade. Como referência, utiliza as análises de Boaventura S. Santos, no seu livro Pela mão de Alice – o social e o político na pós-modernidade, editado pela Cortez, em que examina as questões desafiadoras do mundo contemporâneo e o fracasso de alguns movimentos sociais. Segundo Rios, esse autor refere-se à necessidade da permanência da luta pelo socialismo, denominado como “uma qualidade ausente”, ou seja, “um princípio que regula a transformação emancipatória do que existe, sem contudo, nunca se transformar em algo existente”. A idéia é manter a utopia de uma sociedade mais justa e de uma vida melhor.
Nesse sentido, nas palavras de Rios, a melhor qualidade para o ensino é criar condições para a formação de alguém que sabe ler, escrever e contar. “Ler não apenas as cartilhas, mas os sinais do mundo, a cultura de seu tempo. Escrever não apenas nos cadernos, mas no contexto de que participa, deixando seus sinais, seus símbolos. Contar não apenas números, mas sua história, espalhar sua palavra, falar de si e dos outros. Contar e cantar – nas expressões artísticas, nas manifestações religiosas, nas múltiplas e diversificadas investigações científicas”.
Livro: Compreender e ensinar: por uma docência da melhor qualidade Autor(es): Terezinha Azerêdo Rios Editora: Cortez Páginas: 158 |