Pensar a linguagem da mídia e o ensino da leitura de sua mensagem é a proposta do livro Mídia & educação, destinado a professores do ensino fundamental e médio. Composto por cinco ensaios produzidos por acadêmicos e especialistas com atuação na área educacional, a obra, que faz parte da série Educação em Diálogo, da Gryphus, examina diversos aspectos da relação entre educação e mídia, sempre com a preocupação de formar um cidadão crítico em contraposição ao consumidor inocente.
“Concluímos, então, que uma das funções da escola, hoje, seria ensinar a ler as mensagens veiculadas pelos meios de comunicação de massa, como forma de ensinar a ler o mundo que nos cerca, do qual a televisão, por exemplo, nos aproxima mas ao mesmo tempo nos afasta, enquanto recorta, seleciona a informação”, explica a professora Vera Follain de Figueiredo, do departamento de Comunicação da PUC-Rio, no texto introdutório.
Segundo a professora, não se trata de assumir uma atitude de euforia tecnológica, legitimando acriticamente tudo o que a indústria audiovisual produz, nem tampouco a escola deve deixar de lado o seu papel de divulgadora dos bens culturais consagrados pela tradição para se submeter aos ditames da banalização cultural induzida pelo mercado. “Trata-se, ao contrário, de entender que os efeitos dos recursos tecnológicos não são neutros, nem onipotentes”.
O primeiro ensaio do livro, escrito pelo professor John Wesley Freire, especialista em educação e administração escolar, aborda as relações entre mídia e poder no Brasil. “Devemos ter em mente que saber é poder. O conhecimento é, conseqüentemente, uma via de libertação de qualquer opressão. Se o processo educativo reproduz na Escola as relações arbitrárias da sociedade, não é libertador, ajudando a manter o status quo. Uma educação, propondo-se libertadora, discute os benefícios e prejuízos desse quadro, para superá-lo. Considerando-se o que foi dito, as discussões sobre educação e comunicação recaem sobre a questão do poder”, salienta o professor.
O desafio maior, segundo Freire, é desenvolver nos alunos um certa autonomia, para que não sejam dominados por influências que os levem a fazer aquilo que os outros querem, inclusive o que os professores desejam. “Nossa proposta é deixar que cada um revele plenamente seus potenciais. Assim, a educação trabalha o poder e a capacidade de aprender que já existe no aluno: não implanta a faculdade de visão, mas reorienta o olhar”.
A professora Maria Thereza Fraga Rocco, titular da Faculdade de Educação da USP, examina especificamente a televisão. Discute o seu alcance, os preconceitos que a impedem de ser utilizada na escola de maneira mais sistemática, o processo de recepção, além de outros temas como cidadania. Para ela, os jovens devem ter a competência de ler e analisar o texto televisual com a ajuda do professor.
“Um trecho de programa qualquer ou um comercial de TV podem ser desenvolvidos em sala de aula com vários professores, a um só tempo. De modo interativo e multidisciplinar, por exemplo, é possível também que seqüências de uma entrevista, de uma minissérie, de um documentário de bom nível e até mesmo de um programa detestável sejam analisados com os alunos pelos professores de português, artes, ciências, geografia etc.”, orienta Rocco. (Entrevista com Maria Thereza Fraga Rocco)
Sobre a economia e o saber, a função do ensino, a inteligência coletiva e o ensino a distância, o professor André Parente, da Escola de Comunicação da UFRJ, e o economista Paulo Roberto Giraldi Vaz falam sobre a importância de um projeto pedagógico, do envolvimento da comunidade, sempre tendo a preocupação com a cidadania.
Num contexto de acelerado avanço tecnológico e de constantes transformações sociais, políticas e econômicas, a escola deve capacitar o aluno a aprender a aprender para se adaptar à demanda de contínua atualização. Essa postura é da jornalista e professora Lia Ciomar Faria, que trabalhou com Darcy Riberio na implantação do Programa Especial de Educação (Cieps).
“A Educação de qualidade para a população tem de estar acompanhada do desafio de formação do sujeito histórico, capaz de desenhar o roteiro de seu destino e de dele participar ativamente. Por isso mesmo hoje, para o nosso povo, mais importante que a especialização, é a formação básica definida como patrimônio crítico e criativo substancial, capaz de estabelecer como regra de formação o “aprender a aprender” e a constante habilidade de se renovar/atualizar”, argumenta Faria, que se preocupa com humanização da tecnologia como tarefa educacional.
No último texto do livro, o professor de pós-graduação em Comunicação e Semiótica da PUC e de Cinema, Rádio e TV da USP, Arlindo Machado, analisa a televisão e as possibilidades de sua difusão dentro de alguns parâmetros de qualidade. Para ele, a TV é e será aquilo que nós fizermos dela, longe de considerá-la qualquer coisa fixa.
“Ao decidir o que vamos ver ou fazer na televisão, ao eleger as experiências que vão merecer a nossa atenção e o nosso esforço de interpretação, ao forjar estratégias pedagógicas de inserção desse meio nas escolas, ao discutir, apoiar ou rejeitar determinadas políticas de comunicação, estamos, na verdade, contribuindo para a construção de um conceito e uma prática de televisão”, avalia Machado, que defende uma escolaridade para decodificar, interpretar, avaliar e criticar a mensagem audiovisual.
Livro: Mídia & educação Autor(es): vários. Organização de Vera Lúcia Follain Figueiredo Editora: Gryphus Páginas: 161 |