A LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), de dezembro de 1996, define o ensino religioso como disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental. Em abril de 1999, o Conselho Nacional de Educação aprovou parecer que introduz as aulas de religião na grade curricular de 800 horas-aula anuais obrigatórias. Com essa postura oficial, surge uma questão: as administrações escolares estão dando maior valor ao ensino religioso apenas por uma exigência legal da LDB ou por entenderem o homem não só como corpo, mas também como espírito, com uma dimensão transcendental?
Partindo desse questionamento e com o objetivo de traçar uma paisagem mental de um grupo de educadores sobre o ensino religioso, uma dissertação de mestrado, defendida na UnB (Universidade de Brasília), concluiu ser necessário uma intervenção capaz de harmonizar duas visões contrárias presentes na rede municipal de ensino de Uberlândia (MG). Os administradores escolares, explica a pesquisadora Marilda de Fátima Duarte, autora do estudo, apresentam ora uma atitude heróica, de luta e enfrentamento, ora uma atitude mística, de acomodação frente ao preestabelecido. O trabalho procurou examinar se o aspecto transcendental do homem está de fato sendo contemplado na organização escolar da cidade mineira.
Duarte parte, num primeiro momento da dissertação, para uma análise de documentos da Secretaria Municipal de Uberlândia, que entende o ensino religioso como uma orientação para a vida. Depois, em busca de referenciais teóricos, a pesquisadora examina a “teoria do imaginário”, de Gilbert Durand. “Vislumbramos um modo diferente de fazer ciência, adotando uma postura transdisciplinar, onde o imaginário situa-se, sendo um tecido conjuntivo entre as disciplinas, um lugar mediador, de entre saberes“, justifica. Como essa teoria trata da função simbólica, foi possível utilizá-la no universo das organizações sociais. Neste caso, a escola foi concebida como instituição que se faz e refaz sempre, como num processo de constante construção.
O pensador Edgar Morin, com a “teoria da complexidade”, foi utilizado como referência para se abordar a cultura e a complexidade social. Essas temáticas, segundo Duarte, são importantes para compreender a auto-organização do ser humano, considerando seus erros, desvios e desordens como ponto de partida para uma reintegração e sintonia com suas exigências e necessidades vitais.
Para realizar um diagnóstico sócio-antropológico da existência do grupo, a pesquisadora empregou a Culturanálise de Grupos, do professor José Carlos de Paula Carvalho. Fez-se uma aplicação do AT-9 (teste arquetípico de nove elementos) para se pensar numa interferência após o levantamento da paisagem mental.
Sobre os aspectos da religiosidade, Duarte fez uma abordagem universal sem privilegiar uma determinada religião. “Assumimos, neste trabalho, uma postura aberta, com visão politeísta, ainda que tenhamos uma opção monoteísta acerca de religião”, enfatiza. A referência teórica, neste caso, ficou com o historiador Mircea Eliade.
A pesquisa, realizada com administradores escolares, supervisores pedagógicos, orientadores educacionais, professores e alunos de três escolas do segundo ciclo do ensino fundamental de Uberlândia, concluiu que o aspecto transcendental do homem está sendo contemplado nas instituições de ensino. No entanto, uma proposta curricular deve ser pensada para o ensino religioso, já que o homem também é um ser religioso e os administradores escolares mantêm posturas contraditórias de acomodação e enfrentamento.
“As representações da religiosidade no imaginário de administradores escolares da rede municipal de ensino de Uberlândia-MG”, dissertação de mestrado de Marilda de Fátima Duarte. Orientação do prof. dr. Altair Macedo Lahud Loureiro. Área de estudo: Gestão Escolar. Defesa na Faculdade de Educação da UnB, em 07 de novembro de 2000.