Aristóteles e a educação

Em Atenas do século IV a.C. haviam duas instituições de ensino para os jovens que buscavam uma formação superior que permitisse exercer uma atividade pública. Do lado dos sofistas, Isócrates propunha capacitar o aluno a emitir opiniões prováveis sobre coisas úteis. Contrário a esta proposta, Platão ensinava os fundamentos para a ação como investigação científica, com enfoque nos estudos matemáticas. Aristóteles optou pela Academia de Platão, que entendia a atividade humana correta quando sustentada por uma episteme (ciência), fundamentos da realidade de uma determinada ação, muito distante das decisões baseadas em opiniões.

Depois da morte de Platão e de algumas andanças pela Ásia Menor, Aristóteles abre o Liceu, escola dedicada principalmente aos estudos das ciências naturais, que passou a rivalizar a Academia. A postura da nova escola deve-se à ligação de Aristóteles com as pesquisas biológicas de seus antepassados, que trouxe o espírito de observação e a tendência classificatória, traços fortes de seu pensamento.

Para entender a concepção de educação do filósofo grego é preciso compreender sua visão sobre a política. O componente inicial de uma cidade, para ele, é a família ou casa com relações entre marido e esposa, pais e filhos, senhores e servos. O objetivo é satisfazer as carências cotidianas. Várias famílias compõem uma aldeia, que possui relações entre si derivadas do poder paterno. O objetivo é atender às necessidades mais complexas. Várias aldeias formam cidades auto-suficientes, que devem promover uma vida boa. Não temos mais o poder paternal e suas derivações, mas um poder político. Para Aristóteles, o indivíduo isolado torna-se um deus ou uma besta. A educação, nesse contexto, deve ser mobilizada para o perfeito funcionamento da cidade.

Para Aristóteles, o Estado deve ser o responsável pela educação, que deve ser adaptada à forma de governo. Ou seja, os cidadãos devem ser formados à maneira do governo. As escolas devem estar sob o controle estatal porque ele entende que o Estado só é possível se os cidadãos aprenderem a obediência às leis. O objetivo é conseguir a unidade social em meio a heterogeneidade étnica. O Estado é uma pluralidade e a educação tem o papel de fazer a unidade. Tudo isso com vistas ao bem; o bem ser do intelecto e o bem fazer da ação como hábito na vida social. A felicidade individual se confunde com a felicidade da cidade. A virtude, para Aristóteles, está na conquista da felicidade e do bem.

Segundo Piletti, na História da educação, o pensador desenvolveu seu conceito de educação partindo da idéia de imitação: “O homem se educa na medida em que copia a forma de vida dos adultos. Ele se educa porque atualiza suas energias. Segundo a doutrina da potência e do ato de Aristóteles, o educando é potencialmente um sábio e, com a educação, ele atualiza (converte em ato) o que é suscetível de desenvolver.”

Outra contribuição importante do filósofo está na sua concepção de Filosofia Primeira. Para ele, é o estudo dos primeiros princípios e das causas primeiras de todas as coisas. É o estudo que investiga “o Ser enquanto Ser”. Estamos falando de sua Metafísica, considerada a obra mais importante. “A metafísica aristotélica inaugura, portanto, o estudo da estrutura geral de todos os seres ou as condições universais e necessárias que fazem com que exista um ser e que possa ser conhecido pelo pensamento”, diz Marilena de Souza Chauí, no livro Convite à filosofia. O exemplo dado pela professora para ilustrar esse filosofar é o seguinte: “Sócrates é homem”. Se dissermos isso, necessariamente, teremos que dizer os predicados: mortal, racional, finito, animal, pensa, sente, anda, reproduz, fala, adoece, é semelhante a outros atenienses, é menor do que uma montanha e maior do que um gato, ama, odeia. Acidentalmente, ele poderá ter outros predicados: é feio, é baixo, é diferente da maioria dos atenienses, é casado, conversou com Laques, esteve no banquete de Agáton, esculpiu três estátuas, foi forçado a envenenar-se pelo tribunal de Atenas.

Obras — Em Organon que significa instrumento, Aristóteles sistematiza a lógica formal, para uma razão afinada com a verdade. A obra, estruturada em seis partes (Categorias, Da interpretação, Primeiros analíticos, Segundos analíticos, Tópicos e Refutações sofísticas), examina as predicações, as proposições como discurso verdadeiro ou falso, os silogismos e suas aplicações práticas, além de se dirigir contra os sofistas. Em Política, oito livros constituem um verdadeiro tratado político. O filósofo diz que o Estado é a forma mais elaborada de sociedade e nele há dois tipos de homens: os que mandam e os que obedecem. Na Metafísica, temos a filosofia primeira, ou seja, o Ser enquanto Ser. É considerada uma das obras mais importantes do filósofo. Ética a Nicômaco institui uma nova concepção de moral, que rompe com o platonismo (Ética a Eudemo trata desse rompimento). Para Aristóteles, o único objetivo que o homem persegue é o bem. Em Poética, temos alguns fragmentos sobre a arte literária, um estudo sobre a tragédia e a epopéia. Nesse contexto, considera toda arte como imitação da realidade sensível. Aristóteles também é autor de Física, Retórica, História dos animais e Protréptico.

Sugestões de leitura
ARISTÓTELES. “Poética”; “Organon”; “Política”. In Os pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 2000.
ARISTOTELES. Arte retórica e arte poética. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1964.
ARISTOTELES. Ética a Nicomacos. Brasília: UNB, 1992.
ARISTOTELES. A política. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
PILETTI, Claudino e Nelson. História da educação. São Paulo: Ática, 1997.
CHAUÍ, Marilena de Souza. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1996.

COMO CITAR ESTE CONTEÚDO:
MENEZES, E. T. Aristóteles e a educação. EducaBrasil. São Paulo: Midiamix Editora, 2015. Disponível em <https://educabrasil.com.br/aristoteles-e-a-educacao/>. Acesso em 27 jul. 2024.

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