O professor Howard Gardner, do departamento de pós-graduação em educação da Universidade de Harvard (EUA), publicou, em 1983, os resultados de sua pesquisa, fundamentada em análises de novas visões do cérebro, obtidas por ressonância magnética, estudos de indivíduos prodigiosos, pacientes com danos cerebrais, autistas conhecidos primitivamente como “idiotas sábios” e crianças e adultos normais diante de certos desafios. A conclusão do trabalho demonstrou a presença de múltiplas inteligências nos seres humanos.
Baseando-se nas formulações do pesquisador norte-americano, o escritor e educador Celso Antunes, mestre em geografia pela USP, redigiu A Construção do Afeto, que propõe formas sistemáticas de estímulos a cada uma das inteligências. No capítulo “O que é inteligência?”, o autor diz que “estimulação, sobretudo durante a infância, pode levar a inteligência a uma expansão mais de duas vezes superior a seus limites inatos”.
Nas primeiras pesquisas de Gardner, evidenciava-se sete inteligências. Em estudos mais recentes, elevou-se o número para oito. Uma das inteligências, por exemplo, é a lingüística. Shakespeare e Clarice Lispector a teriam, segundo Antunes, pela elevada capacidade de processamento, organização e compreensão da linguagem.
Qual seria a inteligência mais evidente em Einstein e Newton? Considerando a competência em desenvolver raciocínios dedutivos, em construir cadeias causais, com números e outros símbolos, seria a lógico-matemática. Pessoas com essa capacidade teriam um gosto particular, diz Antunes, em resolver problemas lógicos como os que se apresentam no jogo de xadrez.
Haveria ainda a inteligência espacial, apresentada na capacidade da visão e pela percepção das formas dos objetos. A musical estaria associada à compreensão formal dos sons. Os movimentos corporais, os gestos e as habilidades tátil, olfativa e do paladar expressariam a inteligência cinestésico-corporal, reconhecida em atletas e bailarinos. A competência no relacionamento com os outros seria a inteligência interpessoal. E a capacidade de administrar os próprios sentimentos, a intrapessoal. Finalmente, a inteligência naturalista ou biológica está relacionada à compreensão do ambiente, da paisagem botânica e dos desafios da vida animal.
A primeira parte do livro fala da criança e de suas inteligências, desde o período pré-natal. Num quadro cronológico da gestação, Antunes apresenta, do primeiro ao nono mês, as características do feto e as possíveis ações dos pais. No segundo mês, por exemplo, “já existe esboço da inteligência interpessoal, e a rejeição da gravidez pela mãe pode provocar no feto uma sensação de fuga do real, que mais tarde poderá causar a esquizofrenia ou alguns tipos de autismo”.
A segunda parte do livro concentra-se nos estímulos a cada uma das inteligências, considerando algumas etapas na faixa etária até os seis anos (ou mais) de idade. Os estímulos lingüísticos têm um papel fundamental para as outras capacidades humanas. “O desenvolvimento da fala constitui elemento crucial para seu crescimento cognitivo e para a abertura de outras inteligências, pois é acompanhado de sistemas simbólicos para representar objetos à sua volta, refletir sobre pessoas, lugares e eventos e comunicar suas idéias e sentimentos”, ressalta o autor.
Livro: A Construção do Afeto: como estimular as múltiplas inteligências de seus filhos Autor(es): Celso Antunes Editora: Augustus Páginas: 158 |