O processo da escrita pelo poema

Como ensinar a escrever? O que pode contribuir efetivamente para a produção de um texto? Um caminho pode ser iniciado pelo poema, pois essa prática rompe com certos preconceitos sobre a escrita. “A palavra, no poema, pelo seu caráter polissêmico, multissignificativo, convida naturalmente ao jogo, à retomada de um imaginário que o barulho das máquinas e a fumaça das chaminés tender a entorpecer”, explica um trecho do livro Produção e leitura de textos no ensino fundamental, da professora Beatriz Citelli, editado pela Cortez.

A autora, mestre em Teoria Literária e Literatura Comparada, examinou a produção e a recepção de textos literários em alunos do ensino fundamental de cinco escolas de São Paulo, onde lecionou. Ela constatou que os estudantes tendem a soltar a imaginação, permitindo a descoberta de possibilidades expressivas da palavra, quando se trabalha a escrita a partir da linguagem poética. “Ao insistir na atividade com a poesia, penso que é possível executar uma espécie de reencontro com a pluralidade da palavra, logo com a linguagem em movimento: aquela dimensão onde o signo deixa de ser apenas elemento de comunicação para ganhar força de nomeação”, esclarece Citelli, sobre algumas conclusões de seu trabalho.

O livro foi estruturado em três grandes partes para examinar o poema, a narrativa e a argumentação. Além de poesias e outros textos dos alunos envolvidos na pesquisa, a obra traz análises, conclusões e muitos questionamentos sobre os problemas enfrentados em sala de aula.

Tanto a narrativa quanto a argumentação, pelo estudo da professora, podem melhorar quando trabalhados a partir da linguagem poética ou pela “fase do poema” como a chamou. Utilizar a construção literária, considerada aberta e plural, não significa falta de coesão, coerência ou inteligibilidade. “O que existe é um outro modo de estruturar as várias vertentes do conhecimento”, salienta a autora. Ela explica que o texto narrativo, por exemplo, através da estruturação de personagens, do tempo e do espaço, pode construir identidades verbais para os alunos contarem uma história. Já o texto argumentativo, que possui uma lógica interna e até pode enrijecer a linguagem, pode conquistar um enunciado conceitual com uma face mais ágil.

Essa proposta de trabalho com os vários tipos de textos permitiu mostrar, segundo a autora, uma linguagem que expressa e também constrói mundos. Ela constatou que “ao cruzar poesia e prosa, narração e descrição, denotação e conotação, nada mais se está fazendo do que exercitar as múltiplas possibilidades necessárias para se contar uma experiência, justificar uma idéia, projetar um rasgo do imaginário”.


Livro: Produção e leitura de textos no ensino fundamental (Coleção aprender e ensinar com textos, volume 7)
Autor(es): Beatriz Citelli
Editora: Cortez
Páginas: 184
COMO CITAR ESTE CONTEÚDO:
SANTOS, T. H. O processo da escrita pelo poema. EducaBrasil. São Paulo: Midiamix Editora, 2001. Disponível em <https://educabrasil.com.br/o-processo-da-escrita-pelo-poema/>. Acesso em 27 jul. 2024.

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