Os bens fundamentais da sociedade atual não são mais os meios de produção, as matérias-primas, as patentes e a produtividade. Agora, os principais recursos são a inteligência, o conhecimento, a criatividade, a informação e os laboratórios científicos e culturais. É a chamada sociedade pós-industrial, que vem se formando desde a década de 50. Essa concepção da realidade é proposta pelo sociólogo italiano Domenico De Masi, na introdução do livro A Sociedade Pós-Industrial.
Embora seja apresentado na capa como autor, De Masi assinou apenas uma longa introdução e organizou 20 estudos sobre autores e pensadores como Jungk, Galbraith, Bell, Touraine, Toffler, Maffesoli, Gottmann, Dahrendorf, Thurow, entre outros, que analisaram as transformações tecnológicas e suas conseqüências nas relações sociais, econômicas e políticas, além de examinarem as novas características do poder e da produção e as mudanças de percepção do homem e de sua formação.
“O que está em jogo com essa transformação é a eliminação total da fadiga física, a redução drástica das horas de trabalho, o maciço deslocamento da atenção do lugar e do tempo da produção material para os locais e os tempos da reprodução, da introspecção, do convívio, do jogo, da amizade, do amor…”, ressalta De Masi, sobre as mudanças do sistema social, na vida dos homens e no tempo de trabalho e de lazer.
Os estudos do grupo de pesquisadores do Instituto para os Estudos sobre o Desenvolvimento Econômico e o Progresso Técnico, do qual De Masi é líder, constataram, no início dos anos 80 (o livro foi publicado em 1985, na Itália), um afastamento da sociedade entendida como industrial, em que o setor dominante era o da produção de bens, com operários, engenheiros, empresários e funcionários de escritório. Em compensação, a produção de idéias, o fornecimento de serviços, com profissionais liberais, técnicos e cientistas, e outras grandes estruturas de massa estão mais próximos da sociedade atual.
Diante dessas transformações contínuas, a educação sofre mudanças, mas também as promove. No epílogo “Jungk: o homem do milênio”, a pesquisadora Giovanna Scarpitti Brocchieri alerta sobre o risco de um novo analfabetismo: “…pode-se, de fato, saber ler e escrever mas não conhecer os liames e os interesses econômicos e científicos que influenciam as relações humanas”.
Para se combater esse analfabetismo, Brocchieri critica os velhos métodos didáticos: “… os alunos não podem ser considerados como “recipientes a serem preenchidos”, incapazes de autonomia de pensamento e juízo”. Mais adiante em seu texto, a pesquisadora diz que “sobressai a necessidade de projetos educativos abertos, nos quais a confiança no homem esteja no centro de toda intervenção formativa e educativa”.
O livro fornece uma série de teorias e outras informações importantes para auxiliar a compreensão da sociedade com maior rigor. No entanto, assumi-lo como um modelo interpretativo definitivo e estático, sem considerar as limitações lingüísticas, filosóficas e de compreensão do texto, pode conduzir o leitor a um entendimento facilitado, prejudicando um pensamento inventivo e as possibilidades de ações igualmente criativas, o que justamente preconiza o livro nas suas investigações.
O sociólogo Domenico De Masi, professor de Sociologia do Trabalho na Universidade La Sapienza, em Roma, é autor de três títulos brasileiros sobre o trabalho, a criatividade e o lazer. Pela Editora Esfera, publicou Desenvolvimento Sem Trabalho. Pela José Olympio, A Emoção e a Regra e O Futuro do Trabalho. Dentre outros projetos no Brasil, formalizou a abertura do S3-Studium Brasil, filial paulistana de seu instituto romano de pesquisas, e anunciou uma edição brasileira da revista cultural italiana Next.
Livro: A Sociedade Pós-Industrial Autor(es): Domenico De Masi e colaboradores Editora: Senac-SP Páginas: 443 |