Por uma visão integrada da Biologia

“Numerosos estudos têm mostrado que os próprios professores não compreendem a natureza da ciência”. A informação é do professor José Mariano Amabis, do Instituto de Biociências da USP (Universidade de São Paulo) quando participou do VIII EPEB (Encontro Perspectivas do Ensino de Biologia), realizado entre os dias 20 e 22 de fevereiro na Cidade Universitária, em São Paulo. Junto com o professor, compondo a mesa redonda “A contribuição do ensino para a leitura das questões recentes da Biologia “, participaram também a professora Sandra Escovedo Selles, da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense, e a professora Nádia Geisa Silveira de Souza, da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).

Amabis iniciou sua participação dizendo que o conhecimento tem sido passado para a sociedade numa velocidade bastante alta. “Não tivemos tempo de formar certos padrões éticos e certos conceitos em termos sociais para lidar com isso”, revelou. Para ele, a grande questão é se os professores estão conseguindo fazer esse processo social na escola. Para abordar o assunto, ele utilizou várias gravuras a fim de ilustrar sua fala.

Salientando que os problemas no ensino de Biologia são universais, Amabis disse que não há mais sentido uma educação fundada na transmissão de fatos. “Isso porque a pesquisa científica está soltando cada vez mais informações”, explicou. Além desse problema, mostrou a imagem de uma cidade com vários balões flutuando sobre ela para ilustrar a fragmentação do conhecimento biológico e seu distanciamento da vida cotidiana. Cada balão representava uma área da Biologia, geralmente estudada em sala de aula numa unidade de genética, por exemplo. Os balões estavam soltos no ar e a Biologia real, como enfatizou o professor, acontecendo na cidade. “Esperamos que o aluno faça essa ligação (entre o conhecimento estudado na escola e a vida cotidiana), mas isso não é possível se tivermos essa visão”, referiu-se à ilustração.

Outra dificuldade apontada por Amabis foi sobre a prática do aprendizado voltada para a repetição na hora da avaliação. Nesse contexto, “a visão do professor é a de que consegue transmitir os fatos e dos alunos, a de que conseguem devolver na prova”. Por que temos dificuldades de escapar dessa visão? Como resposta, Amabis disse que estamos diante de um círculo vicioso, pois sempre precisamos de um modelo e criar é muito difícil. “Tiramos o modelo do curso que temos e a universidade não muda ou muda muito lentamente; ela educa os professores, que vão sair e repetir o modelo”, argumentou.

Para Amabis, o problema do ensino de ciências atual no ensino médio e fundamental está na falta de um senso de direção, de uma base filosófica e o fato de os professores continuarem a ensinar como foram ensinados por falta de modelos. “Numerosos estudos têm mostrado que os próprios professores não compreendem a natureza da ciência”, afirmou. Então como o professor pode ensinar o que não compreende completamente? Em resposta, Amabis disse que “se os professores serão os responsáveis pela implementação de reformas, eles precisam compreender não apenas o que os cientistas sabem, mas também como a ciência funciona.”

Uma análise crítica do conhecimento, segundo o professor Amabis, deve contemplar a natureza da ciência, permitindo uma visão de mundo da disciplina integrada com as outras. Além disso, o ele enfatizou a importância de se ter uma rede conceitual que permita perceber “como o conhecimento foi construído e como pode ser mudado”.

COMO CITAR ESTE CONTEÚDO:
MENEZES, E. T; SANTOS, T. H. Verbete Por uma visão integrada da Biologia. Dicionário Interativo da Educação Brasileira - EducaBrasil. São Paulo: Midiamix Editora, 2002. Disponível em <https://educabrasil.com.br/por-uma-visao-integrada-da-biologia/>. Acesso em 23 nov. 2024.

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