Reinventando o mundo e a educação

Dos anos 60 até 2001, as palavras envelheceram. Mas isso não ocorreu com o pensamento de Paulo Freire, que continua atual. A opinião é de quem trabalhou com o educador em projetos de educação popular e hoje desenvolve trabalhos na favela da Rocinha (RJ). Coordenador do LISE (Laboratório do Imaginário Social e Educação), vinculado à Faculdade de Educação da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Pedro Benjamim Garcia participou como palestrante do I Seminário de Educação: Paulo Freire na Contemporaneidade, nos dias 4 e 5 de julho, na UERJ (São Gonçalo, RJ), e mostrou como algumas idéias de Freire permanecem atuais e indispensáveis aos professores.

Ele explicou que nos anos 60 e 70 havia paradigmas claros e vários modelos de sociedade, como a cubana, chinesa e soviética. Porém, com a queda do muro de Berlim e os problemas desvelados com o socialismo real, percebeu-se que muitas das utopias desejadas não se realizaram. Ficamos, de certa forma, sem direção. Nesse contexto, garante Garcia, permaneceu a dimensão ética, política e uma prática transformadora que caracteriza a educação popular. “O que parece central no trabalho educativo é que o educador é por excelência um homem que pensa na transformação, numa prática e, através dela, consubstancia em algo imediato em termo de mudança”, ressaltou Garcia, mostrando a importância de Paulo Freire no desenvolvimento de uma teoria intimamente relacionada com a prática. Salientou ainda que “o conceito serve como mediação da prática”.

Um exemplo disso é a tentativa de se trabalhar a violência no nível da denúncia. Garcia lembrou que Freire percebeu que seu discurso não minimizava a violência. O objetivo era mudar o comportamento das pessoas por meio de um discurso monológico em detrimento de um diálogo para entender o outro. O discurso pode até ser correto, disse Garcia, mas é ineficaz se não tem inserção no discurso do outro.

A relação entre linguagem e poder também foi abordada pelo professor da UFRJ. Ele entende que a leitura do mundo é anterior à leitura do texto. Para apresentar a prática dessa idéia, falou da experiência de um trabalho bem-sucedido realizado no Colégio Santo Inácio, zona sul do Rio de Janeiro. A técnica consiste em perguntar o nome do aluno e depois a sua história. “Estão contando a história do nome, mas também da própria vida”, esclareceu. Essa simplicidade traz, segundo Garcia, um estímulo fundamental: “Isso é importante porque as pessoas começam a falar, começam a nomear as coisas e nomear as coisas é o primeiro passo para poder nomear o mundo; e transformar as coisas a partir do uso das palavras”.

Essa capacidade de transformação está muito associada à idéia de utopia, que precisa ser sempre renovada. “Porque o mundo muda e nós temos que reinventar esse mundo para que sejamos pessoas que acreditam nele e em si mesmas — não há nada mais melancólico do que a perda da esperança”, justificou. Disse ainda que não podemos ficar na lamentação de um passado que não se realizou: “Se nos anos 60 e 70 nós acreditávamos que o mundo já estava inventado e bastava apenas seguir uma trilha para atingir a nossa meta, hoje em dia temos muito mais possibilidades de reinventar porque nós não temos um ponto de chegada preestabelecido”.

COMO CITAR ESTE CONTEÚDO:
MENEZES, E. T; SANTOS, T. H. Verbete Reinventando o mundo e a educação. Dicionário Interativo da Educação Brasileira - EducaBrasil. São Paulo: Midiamix Editora, 2001. Disponível em <https://educabrasil.com.br/reinventando-o-mundo-e-a-educacao/>. Acesso em 27 jul. 2024.

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